É o que se propõe a responder um estudo realizado por Edmar Ribeiro, enfermeiro do Risoleta.
A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa que afeta mais de 23 milhões de pessoas no mundo. A doença tem uma sobrevida de cerca de 35% após cinco anos de diagnóstico, isto é, apenas um terço dos pacientes vive pelo menos 5 anos após identificada a doença.
Ainda, a IC é responsável por 39% dos custos por internações clínicas nos hospitais e é comum que pelo menos 1/3 de todos os pacientes com o caso sejam readmitidos nas internações dentro de 90 dias após a alta.
Os números assustam não só pacientes, mas profissionais de saúde e pesquisadores. E isso é o que motiva Edmar Ribeiro, enfermeiro do CTI do Risoleta e doutorando em Saúde Pública e Epidemiologia da Escola de Enfermagem da UFMG, a estudar melhorias na adesão ao tratamento da insuficiência cardíaca e, consequente, o aumento da qualidade de vida desses pacientes.
Edmar é o autor principal do artigo ‘Effectiveness of Telemedicine in Reducing Hospitalizations in Patients Discharged from the Hospital Due to Heart Failure: A Randomized Clinical Trial Protocol’, publicado em maio na revista International Journal of Cardiovascular Sciences, que aborda o estudo clínico que o enfermeiro e a equipe estão realizando para investigar a eficácia da telemedicina na redução de internações de pacientes com IC nos Hospitais SUS-BH.
Confira abaixo entrevista com o pesquisador:
1 – Nas instituições privadas, existe uma efetividade comprovada da telemedicina para reduzir internações de pacientes com IC. Pelo seu estudo, quais desafios e potências esse método encontra na assistência SUS em Belo Horizonte?
Os principais desafios são a articulação entre os profissionais e serviços, o estabelecimento de fluxos e a organização da Rede SUS com vista ao rompimento da fragmentação do cuidado. A coordenação e o acompanhamento do cuidado são atributos essenciais da atenção à saúde e articulam-se entre os diversos serviços e ações relacionados ao atendimento de forma que, independentemente do local onde sejam prestados, estejam sincronizados e voltados ao alcance de um objetivo comum.
A potência desse estudo se dá devido a ser utilizado um método tecnológico com objetivo comum: identificar os sinais de descompensação de IC e assim conseguir intervir para evitar internações, diminuindo a sobrecarga no sistema de saúde e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
2 – Como funciona a ferramenta de telemedicina que vocês aplicaram no grupo de pacientes de intervenção? Conte mais sobre a metodologia que utilizaram.
Os pacientes do grupo intervenção, além do cuidado habitual da rede SUS, passam pela seguinte assistência:
3 – Você disse que pesquisadores da American Heart Association (AHA), em Stanford, ficaram impressionados com o desenho do estudo. Qual o retorno que tiveram, como está sendo essa troca?
O nosso trabalho foi apresentado em um encontro na AHA em Stanford justamente sobre o desenvolvimento de estratégias de telemonitoramento para IC. Os pesquisadores da AHA acharam nosso desenho de estudo muito completo, pois envolve o autocuidado, o vínculo com paciente e com a rede SUS. Está sendo uma troca de experiência fundamental, visto que pesquisas clínicas em países subdesenvolvidos são um grande desafio. Ainda mais no cenário da pandemia, no qual tivemos redução de internações por doença cardiovasculares, como descrito em nosso primeiro artigo.
4 – Qual os próximos passos do estudo e a expectativa do grupo?
Os próximos passos são as análises preliminares a serem realizadas e a divulgação dos resultados, que serão fundamentais para as expectativas do grupo, tais como:
Entrega de produtos para a rede SUS de BH e para o Ministério da Saúde,
na perspectiva de motivar maiores pesquisas a nível nacional para o telemonitoramento de pacientes com IC
por meio da criação de protocolos que promovem junto aos pacientes estratégias para melhorar o autocuidado.
Isso que possibilitará a verificação pontual da resposta do paciente ao tratamento introduzido,
permitindo personalizar o tratamento, intervir em tempo hábil e reduzir o número de visitas de acompanhamento!
6- Como o Risoleta foi parte desta etapa do estudo e qual o impacto futuro?
O Risoleta é um dos 6 hospitais que mais atende pacientes com IC na Rede SUS-BH e faz parte de minha formação profissional. Desde a residência até me tornar enfermeiro da terapia intensiva, tenho um grande orgulho de fazer parte dessa equipe. Na minha pesquisa de doutorado, ter a parceria da Instituição, um Hospital de grande impacto e atendimento para a população, é fundamental. O impacto para o futuro é demonstrar as características desses pacientes atendidos no Risoleta e demais hospitais, além de dar subsídios científicos para novos estudos. Está sendo um grande desafio pesquisar e fazer um estudo clínico durante a pandemia de Covid-19, mas os aprendizados valem a pena.