Durante as férias, é comum ver crianças e adolescentes nas ruas empinando pipas — uma brincadeira tradicional e aparentemente inofensiva. No entanto, essa prática vem acompanhada de um risco grave e recorrente: o uso do cerol, uma mistura ilegal de cola com vidro moído, proibida por lei, mas que ainda é amplamente utilizada.
Dados do Hospital Risoleta Neves acendem um alerta preocupante. Somente no primeiro semestre deste ano, oito pessoas precisaram de atendimento na instituição após acidentes causados por linhas com cerol. Somados aos números dos últimos dois anos, o hospital já contabilizou 49 casos entre janeiro de 2023 e junho de 2025.
A maior parte das ocorrências se concentra no segundo quadrimestre do ano — entre os meses de maio e agosto, justamente quando há condições propícias para a prática, pelo aumento dos ventos e também por incidir com o período de férias.
Motociclistas estão entre as principais vítimas, mas pedestres e ciclistas também não estão livres do risco.
As regiões do corpo mais atingidas nos acidentes registrados no Risoleta são as mãos (21 casos), o pescoço (15 casos), o rosto (7 casos) e as pernas (6 casos). As lesões podem ser extremamente graves, com risco de comprometimento funcional, sequelas e, em casos mais extremos, até morte.
Embora até o momento não tenham sido registradas vítimas fatais no Hospital em decorrência desses acidentes, a preocupação da equipe médica permanece alta. As lesões provocadas por linhas cortantes exigem intervenções emergenciais, podem comprometer vasos sanguíneos importantes e deixar sequelas irreversíveis.
“O que mais nos alerta no atendimento dos pacientes vítimas de cerol é o alto risco de acometimento de áreas nobres do corpo humano. Nossa preocupação ocorre principalmente nos pacientes que são atingidos na região cervical anterior (pescoço). Estes possuem alto risco de apresentar lesões na via aérea, impedindo que o pulmão receba o ar respirado adequadamente e/ou lesões de vasos de importância vital, que podem propiciar hemorragias graves. Esses tipos de acometimentos podem levar o paciente a óbito em segundos, mesmo antes de qualquer atendimento”, pontua Caio Aguiar, Coordenador da Medicina de Emergência do Risoleta.
Diante desse cenário, o Hospital faz um apelo à população: é fundamental denunciar o uso de cerol às autoridades e reforçar com crianças e adolescentes a conscientização sobre os perigos dessa prática. Proteger a vida exige responsabilidade e informação — e cada atitude preventiva conta.
Dicas para uma diversão segura:
- Nunca utilize cerol ou linha cortante. Ela pode ferir motociclistas e ciclistas, colocando a vida deles em perigo.
- Sempre empine pipas longe da rede elétrica! O contato com a rede pode causar acidentes e interferências na prestação dos serviços de energia e telefonia.
- Para garantir a diversão, prefira espaços abertos como praças, parques e campos de futebol.
- É comum ver crianças correndo para pegar as pipas que foram “cortadas”. Cuidado! Muitas vezes isso acontece em locais com fluxo de veículos, o que aumenta a chance de acidentes.
- A rabiola da pipa deve ser evitada. Há chance dela enroscar nos fios elétricos, desligando o sistema e provocando choques que podem ser fatais
- Não utilize papel alumínio, pois ele pode causar curtos-circuitos no contato com fios elétricos.
- Evite soltar pipa em dias de chuva! A eletricidade presente nas nuvens de chuva pode atraírem a pipa molhada, aumentando o risco de choque elétrico.