O Risoleta, além de ser uma Instituição de grande relevância assistencial, é também um centro de formação de recursos humanos com múltiplas oportunidades de educação continuada e de desenvolvimento de tecnologia para a área de saúde, o que o qualifica como hospital de ensino. Esse é um dos nossos diferenciais.”

Essa afirmação é de Ligia Cisneros, da equipe da Cirurgia Vascular do Risoleta e docente do Departamento de Fisioterapia da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Aqui, as equipes assistenciais interagem com docentes pesquisadores cujo trabalho vai além de supervisionar alunos de graduação e residentes: a busca por aperfeiçoamento de técnicas, uso de novos equipamentos e tecnologias e compartilhamento de informações para a melhoria de fluxos e práticas são alguns dos objetivos da pesquisa no Hospital. A Comunicação conversou com Ligia e se baseou na experiência dela para produzir este conteúdo.
Desde 2011, Ligia atua no Risoleta com ênfase no cuidado a pacientes com pé diabético. Ela está sempre em busca de trazer novas evidências da literatura científica e promover trocas de conhecimento a favor dos usuários, meta incentivada pelo professor Tulio Navarro, coordenador do serviço. “Criamos um banco de dados digitalizado de atendimentos realizados pela equipe da Cirurgia Vascular entre 2007 e 2013. Analisamos cerca de 5 mil prontuários e organizamos informações importantes. Com esse trabalho foi possível conhecer, de fato, o perfil dos pacientes dessa equipe”, explica Ligia.
Segundo ela, desse levantamento foram elaborados vários outros projetos. Um deles visa monitorar feridas de pacientes com pé diabético após a alta hospitalar por meio de uma meia com sensores de força e sistema bluetooth que transmite informações para um aplicativo e uma nuvem. Esse monitoramento da distribuição de cargas nos pés pode ajudar o paciente em seu cotidiano e permite aos profissionais encontrarem melhores condições funcionais para a cicatrização das feridas.
Outro projeto criou algoritmos usando inteligência artificial para predizer revascularização, necessidade de amputação e risco de morte. “Avaliamos os fatores de risco em outros estudos com pacientes com pé diabético e descobrimos, por exemplo, que cerca de 90% têm anemia crônica, condição associada a amputação. Esse conhecimento prévio dá margem para intervenções por parte de médicos e nutricionistas, permitindo ajustes nas condutas para beneficiar os pacientes. Nossos trabalhos têm sido reconhecidos com premiações em eventos científicos”, orgulha-se.
A inteligência artificial, utilizada na Medicina desde a década de 1990, oferece suporte à decisão clínica sem eximir a tomada de decisão pelo homem. Segundo Ligia, o Risoleta é um campo fértil para a aplicação de tecnologias que possam auxiliar nos tratamentos. Ela ressalta o valor de contarmos com uma equipe multidisciplinar para a ampliação do conhecimento e aplicação das melhores práticas hospitalares. O desenvolvimento e a validação de redes neurais são o foco de publicações em andamento que poderão auxiliar os tratamentos na Instituição.
Impactos da pandemia
A Covid-19 impactou a pesquisa e a assistência. Muitos usuários com diabetes chegam em estado grave ao Hospital após interromperem o tratamento por medo de se infectar. “É uma preocupação inclusive da comunidade internacional que estuda e monitora o diabetes, já que o pé diabético requer cuidado diário. As dificuldades no controle da doença trazidas pela pandemia são desafios para as equipes. Por um lado as pessoas se protegem do vírus em casa, por outro se descuidam e agravam as complicações da doença”, explica.
Devido às restrições para conter o avanço dos casos alguns estudos foram suspensos, mas as reflexões e o propósito dos pesquisadores permanecem. “Já temos novas perguntas para responder. Com a pandemia temos um novo perfil de paciente com novas demandas? A beleza da pesquisa é essa. Ainda mais em um oásis de informações como o Risoleta, referência para uma ampla população com necessidades diversas”, conclui.
Ligia e outros docentes da UFMG acompanham alunos de graduação em Fisioterapia e também da residência. Ela compartilha conquistas práticas conduzidas em time, como a elaboração de 4 procedimentos operacionais padrão (POP), a elaboração de modelos de avaliação para atendimento fisioterapêutico, a inserção do fisioterapeuta no ambulatório de egressos e a conquista de uma vaga de fisioterapeuta exclusivo para a equipe de Cirurgia Vascular.
Ela coordenou sete projetos de pesquisa desenvolvidos com a equipe da Vascular registrados no Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão (NEPE) – publicados no site institucional – e está na coordenação de dois outros projetos em andamento. Esse time também se dedica à produção científica de artigos, trabalhos de conclusão de curso, teses e dissertações e resumos para eventos nacionais e internacionais. A equipe possui entre seus integrantes muitos autores e dois dos editores do livro “Vascular Diseases for the Non-Specialist – An Evidence-Based Guide” publicado pela editora Springer Nature.
Assim como Ligia, muitos docentes da UFMG e profissionais do Risoleta atuam a favor do fomento da pesquisa utilizando o Hospital como campo de conhecimento. Se esse é o seu caso, compartilhe suas experiências com o NEPE para registro e a devida visibilidade nos canais institucionais (nepe@hrtn.fundep.ufmg.br).
Confira trabalhos científicos produzidos pela equipe Risoleta no site: