“Quando uma criança nasce prematura, fora do tempo certo de gestação, ela encara um mundo barulhento, cheio de luzes, movimentos e estímulos que ela ainda não está preparada. Um mundo que pode afetá-la se não for devidamente cuidada. É aí que a Terapia Ocupacional se insere, para minimizar as sequelas da prematuridade”. As palavras de Letícia Casali, terapeuta ocupacional da Unidade de Cuidados Progressivos Neonatal da Maternidade do Risoleta, resumem a atenção diferenciada que os recém-nascidos recebem para prevenir os agravos da prematuridade (locomoção motora, atraso no desenvolvimento escolar, distúrbios alimentares, hiperatividade e déficit de atenção, entre outros).
A profissional atua na unidade desde julho de 2021, juntamente com as equipes de Enfermagem, Fonoaudiologia, Nutrição, Fisioterapia, Serviço Social, Psicologia e Médica, na prevenção dessas sequelas com dispositivos e estímulos que auxiliam no desenvolvimento da criança. “Os prematuros apresentam uma imaturidade do cérebro e como mecanismo de defesa choram e gritam muito. Algumas crianças têm até aversão ao toque pelo tempo que ficaram em incubadoras. Todo o nosso esforço é para que a criança prematura tenha uma vida mais plena, saudável e mais próxima daquilo que é o ideal”, explica.
De paciente a profissional
Mãe de dois filhos, Letícia conta que em um de seus partos tanto ela quanto seu bebê ficaram internados, o que lhe permitiu reconhecer ainda mais a importância da Terapia Ocupacional. “Sair antes da hora do útero traz um impacto grande para o cérebro da criança. Especializei-me para levar para outros bebês o que foi proporcionado ao meu filho: o acolhimento e cuidado adequados para o seu desenvolvimento”, diz.
Letícia confecciona dispositivos para uso nos bebês na Neonatal que previnem
problemas neurológicos, tratam agravos de saúde, contribuem para reduzir o tempo de internação
e acelerar a alta hospitalar. Ela também intervém para prevenir sequelas alimentares e cognitivas com práticas cientificamente comprovadas, além de orientar os pais a respeito do desenvolvimento infantil, estimulação do bebê em casa e as adaptações necessárias.
Confira alguns dispositivos utilizados por ela:
* Gráfico visual: uma figura simétrica em preto e branco, que fica pendurada em uma altura definida (cerca de um palmo do alcance visual da criança) para estimular o amadurecimento da visão do bebê. Em prematuros o cérebro demora até dois anos para enxergar perfeitamente, sendo apenas um borrão, claro e escuro. Esse dispositivo chama a atenção do bebê e o cérebro inicia a codificação de estímulos visuais.
* Ninho (rolinho de posicionamento): o bebê não pode ficar com o corpo solto no berço e na incubadora e, para isso, ele é envolto em uma espécie de cápsula que fornece segurança e limitação de espaço, reproduzindo o útero materno. Esse dispositivo traz aconchego e acalma a criança, além de reter o calor do corpo.
* Rede: dentro da incubadora instala-se uma rede em tecido que vai acalentar o bebê, diminuir sua agitação, choro e acalmá-lo, contribuindo para a evolução do seu estado clínico.
*Banho de ofurô: em um balde, deixa-se o bebê relaxar em água morna, o que remete à sensação de estar dentro do útero, traz tranquilidade, controle fisiológico e reorganização do cérebro.
Sling: também conhecido como “canguru”, trata-se de um tecido amarrado junto ao corpo da mãe que produz estímulo sensorial de colo em movimento e calor do corpo. É muito utilizado em mães com histórico de epilepsia, pois traz segurança contra quedas, além de criar vínculo e contato com a pele. Exemplo, a foto de capa com a profissional e um bebê.
* Órtese: usada para prevenir e reduzir contraturas e deformidades no bebê.
Vale lembrar que os serviços de Terapia Ocuapacional são oferecidos para a reabilitação dos usuários pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Belíssimo trabalho que junta o melhor da técnica com a amorosidade e carinho, essenciais à quem chega ao mundo. Parabéns à equipe 👏👏👏👏