A boca é porta de entrada de microrganismos que podem causar diversas doenças, em especial pulmonares e cardíacas. Segundo o Conselho Federal de Odontologia (CFO) e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), a falta de higiene bucal pode potencializar os efeitos da Covid-19, uma vez que é grande a replicação do vírus em glândulas salivares, língua e saliva. Esse foi o tema de uma reportagem publicada pela Agência Brasil, que compartilha conhecimentos da cirurgiã-dentista do Risoleta, Alessandra Figueiredo de Souza.
Confira aqui a matéria na íntegra e, abaixo, uma entrevista especial com Alessandra.
Como a Odontologia está lidando com a pandemia da Covid-19?
A doença representa um grande problema de saúde pública, uma vez que o vírus Sars-CoV-2 coloniza o trato respiratório e a cavidade bucal (replicando nas glândulas salivares, língua e gengiva) e grande quantidade é encontrada na saliva. Além disso, ele possui alto poder de transmissibilidade através do aerossol produzido pela fala, tosse, espirro dos pacientes e principalmente pelos procedimentos odontológicos. Nossa profissão é altamente de risco por trabalharmos exatamente na boca e quando estamos atuando o paciente sempre está muito próximo e sem máscara (como acontece com a fisioterapia, fonoaudiologia e enfermagem, por exemplo). Temos atuado principalmente na prevenção das pneumonias secundarias à Covid com o protocolo de higiene bucal nos pacientes em ventilação mecânica.
Cabe ressaltar que protocolos de higiene bucal são realizados no Risoleta desde 2010. O primeiro protocolo utilizado pela Odontologia, em conjunto com a equipe multiprofissional, reduziu o percentual de pneumonia de forma significativa, gerando a publicação dos dados no artigo científico “Avaliação da Implementação de Novo Protocolo de Higiene Bucal em um Centro de Terapia Intensiva para Prevenção de Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica”.
Atualmente, sou presidente do Departamento de Odontologia da Amib e, em parceria com a Comissão de Odontologia Hospitalar do Conselho Federal de Odontologia, desenvolvemos as recomendações Amib/CFO para o enfrentamento à Covid-19 na Odontologia.
Como é a sua atuação no Risoleta?
Fui a primeira residente multiprofissional da Odontologia a atuar no Hospital, em 2010. Após a conclusão da residência permaneci como referência do Risoleta para atendimento sob demanda (interconsultas solicitadas pelos médicos), para atuar em alterações de natureza odontológica que repercutem de maneira negativa na recuperação do paciente internado. Atualmente, sou a única profissional da área aqui.
Como avalia os desafios e aprendizados após um ano de pandemia?
Estamos vivenciando algo desconhecido e, como em todas as profissões de saúde, identificamos alterações provocadas pela doença – no meu caso, especificamente na cavidade bucal e a repercussão na condição sistêmica do paciente. Até o momento, as principais alterações são de paladar, lesões oportunistas, lesões traumáticas devido à pronação do paciente e aquelas já conhecidas do usuário sob ventilação mecânica, como alterações salivares, lesões traumáticas pela intubação, exacerbação de doenças bucais pré-existentes (como a periodontite, que tem uma influência no desenvolvimento da pneumonia associada à ventilação mecânica).
Além de aprendizados técnicos, reforço hábitos que venho adotando rigorosamente e que devem ser praticados por todos: o uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e a lavagem constante e adequada das mãos para o enfrentamento à disseminação da Covid-19.